O Bairro Alto

PASSADO NOBRE, DECADÊNCIA E VANGUARDA ARTÍSTICA

Em 1497, a viúva do rico judeu Guedelha Palaçano, amigo e financiador dos reis de Portugal (de D. João I a D. Manuel), vê-se forçada a vender duas glebas de terras contíguas à muralha fernandina, entre o atual Cais Sodré (antigo Cata-Que-Farás) e S. Pedro de Alcântara. Compram-lhe as terras Luís Atouguia, tesoureiro de D. Manuel, sendo aforadores Francisca Cordovil e Bartolomeu de Andrade. Em 1498, o casal obtém autorização para alargar e melhorar a atual rua do Alecrim, e prossegui-la para norte, até ao Postigo de São Roque. Em 1513, é-lhes permitido arruar e lotear todo o terreno para poente, até à atual Rua do Século. Estava, assim, resolvido o problema fundiário.

O plano geométrico foi aprovado e previa uma malha viária mais ou menos ortogonal, e a divisão das glebas em lotes. Os compradores eram, no essencial, membros das classes liberais e abonadas, atraídos pela qualidade dos loteamentos, que se distinguiam da exagerada densificação e confusão intramuros.

Em 1540, a Companhia de Jesus instala-se em Portugal e ocupa o convento de São Roque, estimulando a chegada da nobreza ao bairro. Com esta chegam as residências apalaçadas, numa tipologia mista de prédios de 2-3 pisos com frente de 6-12 metros, que coabitam com palacetes de maior porte. Esta forma de ocupação persistirá até ao terramoto de 1755, evento que marca a retirada da população abastada, com o edificado fortemente degradado e com medo de novos terramotos. O Bairro é, então, ocupado por estratos sociais menos endinheirados, sofrendo um processo de degradação social e transformando-se num local de reputação duvidosa. Pontificam as tabernas e casas de pasto, os prostíbulos, as casas de divertimento noturno, jogo e engate.
Assim se viverá no Bairro até meados do século XX, altura em que o ambiente se altera com o reforço da população boémia, mas também de artistas e redações de jornais, que dão novo ímpeto às tabernas e restaurantes. Com o Estado Novo, reprime-se a prostituição e proíbem-se os bordéis, mas não se evita a degradação física do Bairro.

Hoje, o Bairro é marcado pela sua vida noturna, pelos bares da moda, pelas galerias, lojas alternativas e restaurantes de bom nível. Transformou-se, assim, num local de criatividade urbana, com movimentos artísticos de vanguarda. 

O percurso...

Descendo a rua da Rosa, eixo principal da composição, visitamos os quarteirões norte e a igreja renascentista de São Roque, essencial na formação do Bairro. Prosseguimos pela Travessa da Queimada, rua da Atalaia, Convento dos Inglesinhos e descemos à rua do Século, antiga rua Formosa, onde se destaca o Palácio dos Carvalhos, local onde nascera Sebastião José de Carvalho e Melo, vulgo Marquês de Pombal. Subimos para retomar a rua da Rosa, pegando a Travessa dos Fiéis de Deus e vislumbramos a barroca e setecentista Igreja das Mercês, construída sobre as ruínas da igreja que o terramoto destruíra. Descemos pela rua da Rosa até à Calçada do Combro, onde nos apercebemos das alterações na ocupação de vários palacetes. Tomamos a rua da Emenda, descendo até à Travessa do Andrade, e atravessamos a rua do Alecrim - rua direita do Alecrim, assim chamada em finais do séc. XVII - vislumbrando o empreendimento contemporâneo de Siza Vieira. Terminamos na "povoação piscatória" de Cata-que-Farás, atual Cais do Sodré, não sem antes espreitar o curioso enquadramento do Corpo Santo e da travessa do Cotovelo.   

Local de partida
Miradouro São Pedro de Alcântara
Dia

16 de julho de 2022
Horas:
10h
Preço
 
20

A visita inclui:
- percurso de 3h 
- áudioguias
- pausa para café + pastelaria portuguesa
- disponibilização de material (iconografia)


Recomenda-se o uso de calçado e vestuário confortável.
Qualquer dúvida, não hesite em contactar-nos.

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